Estreou recentemente no Brasil o documentário SOS Saúde (Sicko, 2007), do diretor americano Michael Moore, ganhador de um Oscar em 2003 por Tiros em Columbine, diretor também do celebrado Fahrenheit 9/11, de 2004.
Segundo reportagem de Marinilda Carvalho, publicada na Revista Radis, de fevereiro de 2008 (www.ensp.fiocruz.br/radis), Michael Moore solicitou em seu site (http://www.michaelmoore.com/) que os americanos relatassem suas experiências com o sistema de saúde dos Estados Unidos. Em poucos dias, mais de 25 mil depoimentos foram enviados, contribuindo para que Moore adaptasse o roteiro inicial de Sicko.
Os Estados Unidos têm uma população de 301 milhões de habitantes e 47 milhões não têm plano de saúde, o que acarreta cerca de 18 mil mortes por ano. Até o transporte de ambulância para o hospital é cobrado dos pacientes, ainda que se trate de remoção por acidente grave.
Buscando comparar os sistemas de saúde, Moore visitou o Canadá, França e Inglaterra, países com sistemas de saúde gratuitos e universais, tal como o Brasil.
O filme denuncia o modo como a difamação do sistema de saúde canadense é um dos projetos mais queridos da "indústria da saúde" dos EUA, que tem fobia da medicina não-lucrativa e considera "coisa de comunista" qualquer iniciativa de "socialização da saúde".
Em defesa dos interesses da indústria da saúde, segundo Moore, milhões de dólares são "doados" a políticos americanos, em períodos eleitorais ou não. O Deputado Billy Tauzin, por exemplo, exibiu a própria mãe em plenário, durante a aprovação da Lei de Modernização das Receitas Médicas. Ao término do mandato, Tauzin foi conduzido à presidência da Pharma, com salário de US$ 2 milhões anuais.
Nem Hillary Clinton e Barack Obama escapam à crítica de Moore em seu site. Na atual campanha, todos os pré-candidatos foram agraciados com recursos financeiros reunido por seguradoras, laboratórios e associações profissionais. Os maiores beneficiários foram os democratas Hillary (US$ 2,6 milhões) e Obama (US$ 2,1 milhões).
Ao expor as mazelas e injustiças do sistema de saúde do povo mais rico e opulento do planeta, o documentário de Moore tem o grande mérito de produzir as necessárias reflexões sobre o nosso Sistema Unico de Saúde - SUS.
O Brasil é um dos países que ostenta os piores indicadores de desigualdade social e distribuição de renda do mundo. No entanto, pode exibir orgulhosamente, como exemplo para os Estados Unidos e para o mundo, um sistema público de saúde que tem como princípios a universalidade, a gratuidade, a igualdade no acesso e a participação social.
A história do Sistema Unico de Saúde é muito bonita e interessa a todos os que querem um Brasil mais justo. Sua história é a história de todos aqueles que, historicamente, lutaram e lutam por sua consolidação no Movimento da Reforma Sanitária, e também aqueles que, diuturnamente, nos hospitais, serviços e unidades de saúde de todo o Brasil, vão construindo silenciosamente uma das experiências sociais mais bem sucedidas do Brasil e, por que não dizer, do mundo.
E que Deus nos proteja dos políticos inescrupulosos, dos empresários gananciosos e dos profissionais sem ética, que insistem em fazer da saúde - bem maior da vida, uma simples mercadoria.
Gustavo A. Fichter
Adaptação do texto "Isso dói à beça", de Marinilda Carvalho, publicado na Revista Radis, fevereiro de 2008
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