terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Cortesia

Mil novecentos e pouco.
Se passava alguém na rua
sem lhe tirar o chapéu
Seu Inacinho lá do alto
de suas cãs e fenestra (1)
murmurava desolado
- Este mundo está perdido!
Agora que ninguém porta (2)
nem lembrança de chapéu
e nada mais tem sentido,
que sorte Seu Inacinho
já ter ido para o céu.
Carlos Drummond de Andrade
(1) do verbo fenestrar, isto é, abrir janelas nalgum lugar, para que entrem ar e luz. Por acepção, janela.
(2) do verbo portar, com o sentido de levar.
Transcrito do livro Seleta em Prosa e Verso de Carlos Drummond de Andrade, Livraria José Olympio Editora, 1973.

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